LEILAO DEVE AMPLIAR CONCORRÊNCIA ENTRE AEROPORTOS DO NORDESTE

Obras inacabadas no Aeroporto Internacional de Salvador
A intenção do governo de conceder à iniciativa privada a gestão dos aeroportos de Salvador e Fortaleza já no primeiro trimestre do próximo ano tende a impulsionar o setor de turismo no Nordeste, hoje concentrado no eixo Rio-São Paulo. Mas, apesar da expectativa de criação de novos voos nacionais e internacionais — principalmente para a Europa — e da maior concorrência entre os aeroportos, especialistas avaliam que é preciso investir na infraestrutura de acesso aos terminais para evitar erros como o do Aeroporto de São Gonçalo de Amarante, no Rio Grande do Norte, leiloado em 2011 e que até hoje tem acesso precário.

Na segunda etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL), anunciado anteontem pelo governo, o Aeroporto de Salvador deve receber investimentos de R$ 3 bilhões e ganhar uma segunda pista. Para o de Fortaleza, a previsão é de recursos de R$ 1,8 bilhão com a ampliação do pátio e do terminal de passageiros. O PIL prevê a privatização de Florianópolis e Porto Alegre, com R$ 3,6 bilhões.

— Haverá maior competição no Nordeste, pois os consórcios que levarem esses aeroportos vão disputar as empresas aéreas oferecendo melhores condições. Isso abre espaço para mais voos. Mas o governo tem que fazer a parte dele. O aeroporto no Rio Grande do Norte acabou virando uma ilha porque não recebeu as obras de ligação com a cidade — diz Jorge Leal Medeiros, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

NOVO CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE VOOS

Renato Kloss, do escritório Siqueira Castro Advogados, lembra que a maior competição vai permitir mais investimentos na malha aérea do Nordeste, região que vai receber novo centro de distribuição de voos (hub) da TAM. A aérea vai escolher entre Fortaleza, Recife e Natal a sede de seu centro de conexões de voos entre América do Sul e Europa até fins de 2016.

— A concessão vai permitir maior desenvolvimento do Nordeste e aumentar a qualidade. O Nordeste é o destino de 30% das viagens no Brasil e recebeu 436 mil estrangeiros no ano passado. Havia ainda um pleito de Recife, que acabou ficando de fora. Natal, por exemplo, é o ponto mais perto da Europa e ainda disputa um novo hub da TAM. Mas é preciso resolver a questão do acesso ao aeroporto — disse o ministro do Turismo, Henrique Alves.

As companhias aéreas se mostram otimistas com a maior concorrência. A American Airlines, que tem dez voos semanais de Salvador e Recife para Miami, conta com média de 80% de ocupação. Segundo Alexandre Cavalcanti, gerente de vendas da empresa, um maior investimento nos aeroportos vai melhorar a qualidade para os passageiros:

— Além disso, com maior concorrência nos aeroportos, as taxas para as companhias podem baixar, estimulando novas oportunidades.

Na Air Canada, que registrou crescimento de 38% em passageiros para o Nordeste entre janeiro e maio deste ano na comparação com o ano passado, vai implementar code share (compartilhamento de voo) com a Gol no segundo semestre para as cidades nordestinas. Claudio Borges, diretor de Planejamento de Malha da Gol, prevê aumento na capacidade aeroportuária no Nordeste. A empresa, que já oferece opções diretas da região para Buenos Aires, estuda novos trechos. Uma das opções seria criar voos diretos para o Caribe.

— Haverá mais voos e mais qualidade. Há um desejo das empresas para isso — diz ele.

Depois que as construtoras envolvidas na Operação Lava-jato, como UTC, OAS e Engevix, levaram parte dos aeroportos concedidos, como os de Brasília, São Paulo e Natal, a formação dos futuros consórcios aparece como fator de preocupação.

— Haverá empresas suficientes? Ninguém sabe quem pode aparecer — disse uma fonte do governo que não quis se identificar.

http://oglobo.globo.com/economia/infraestrutura/leilao-deve-ampliar-concorrencia-entre-aeroportos-do-nordeste-16409960